Últimos momentos de Vlado
"Vladimir acordou mais cedo que de costume no sábado, 25 de outubro de 1975. Fez a barba, tomou banho e se despediu da mulher Clarice, ainda na cama, com um beijo. (...) Depois que entrou no DOI, Vlado trocou de roupa e vestiu o macacão dos presos. Ainda pela manhã, foi acareado com dois presos. Com as cabeças cobertas por capuzes de feltro preto, eles não podiam se ver. Mas um deles, Leandro (Leandro Konder), reconheceu o amigo: “Empurrei a borda do pano e vi o preso que chegava. Eu o reconheci pelos sapatos: eram os mocassins pretos que Vlado usava.” Nessa hora, Vlado negou que pertencesse ao PCB e Konder e o outro preso foram retirados para um corredor, de onde ouviram os gritos de Vlado e a ordem para que fosse trazida a máquina de choques elétricos.
"Vladimir acordou mais cedo que de costume no sábado, 25 de outubro de 1975. Fez a barba, tomou banho e se despediu da mulher Clarice, ainda na cama, com um beijo. (...) Depois que entrou no DOI, Vlado trocou de roupa e vestiu o macacão dos presos. Ainda pela manhã, foi acareado com dois presos. Com as cabeças cobertas por capuzes de feltro preto, eles não podiam se ver. Mas um deles, Leandro (Leandro Konder), reconheceu o amigo: “Empurrei a borda do pano e vi o preso que chegava. Eu o reconheci pelos sapatos: eram os mocassins pretos que Vlado usava.” Nessa hora, Vlado negou que pertencesse ao PCB e Konder e o outro preso foram retirados para um corredor, de onde ouviram os gritos de Vlado e a ordem para que fosse trazida a máquina de choques elétricos.
“Os gritos duraram até o fim da manhã. Os choques eram tão
violentos que faziam Vlado urrar de dor”, diz Konder. Um rádio foi
ligado em alto volume para abafar os sons. Meia hora depois, por volta
das 11h, Vlado foi para a sala de interrogatórios. “Mais ou menos uma
hora depois, me levaram a outra sala onde pude retirar o capuz e ver o
Vlado. O interrogador, um homem de uns 35 anos, magro, musculoso, com
uma tatuagem de âncora no braço, mandou que eu dissesse a ele que não
adiantava resistir”, lembra Konder. Vlado estava com o capuz enfiado na
cabeça, trêmulo, abatido, nervoso. Sua voz estava por um fio. “Fui
obrigado a ajudá-lo a redigir uma confissão que dizia que ele tinha sido
aliciado por mim para entrar no PCB e listava outras pessoas que
integrariam o partido.” Konder foi levado e os gritos recomeçaram. Essa
foi a última vez que Vlado foi visto e ouvido. “No meio da tarde, fez-se
silêncio na carceragem”, diz George Duque Estrada que também estava
preso no DOI, em relato no livro Dossiê Herzog – Prisão, Tortura e Morte, de Fernando Pacheco Jordão." (Celso Miranda no Guia do Estudante da Editora Abri)
A Verdade sobre sua morte, enfim é assumida
O juiz Márcio Martins Bonilha Filho, da 2ª Vara de Registros
Públicos do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), determinou nesta
segunda-feira a retificação do atestado de óbito do jornalista Vladimir
Herzog, para fazer constar que sua "morte decorreu de lesões e
maus-tratos sofridos em dependência do II Exército - SP (Doi-Codi)". No
registro anterior, constava suicídio.
O magistrado atende,
assim, à solicitação da Comissão Nacional da Verdade, representada pelo
coordenador, ministro Gilson Dipp, incumbida de esclarecer as violações
de direitos humanos durante a ditadura militar, em investigação
instaurada por solicitação da viúva Clarice Herzog.
Em sua
decisão, o juiz destaca a deliberação da Comissão Nacional da Verdade
"que conta com respaldo legal para exercer diversos poderes
administrativos e praticar atos compatíveis com suas atribuições legais,
dentre as quais recomendações de 'adoção de medidas destinadas à
efetiva reconciliação nacional, promovendo a reconstrução da história'.
O
juiz ainda esclarece que o laudo pericial se revelou incorreto,
reconhecendo a"não comprovação do imputado suicídio"e impondo a
retificação do atestado de óbito.
Investigação
Em
junho deste ano, o Brasil alegou à Comissão Interamericana de Direitos
Humanos, entidade da Organização dos Estados Americanos (OEA), que a Lei da Anistia impede que se abra no País uma investigação sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, ocorrida em 1975.
O
Brasil foi obrigado a se pronunciar oficialmente sobre o caso após
parentes do jornalista e organizações de direitos humanos terem
encaminhado a denúncia à Comissão Interamericana, em 2009. O pedido de
investigação foi feito por quatro entidades que atuam na defesa de
direitos humanos no Brasil. Elas querem que o País investigue o caso,
processe e puna os responsáveis pela morte do jornalista.
No
documento de resposta, o governo brasileiro diz que criou a Comissão
Nacional da Verdade para apurar casos de violações aos direitos humanos
ocorridos na ditadura militar e que o caso de Vlado poderia ser incluído
na comissão. Na sequência, a família Herzog solicitou à comissão a
retificação do atestado de óbito, que foi aceita por unanimidade pelos
membros.
Fonte: JusBrasil
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