Parto domiciliar

As autoridades de saúde também devem fornecer às mulheres com gravidez de
baixo risco informações que lhes permitam fazer uma escolha bem informada entre
dar à luz em casa ou no hospital.
A conclusão não é de um estudo simples, mas de uma Revisão Cochrane, um
levantamento que compara todas as pesquisas científicas já realizadas sobre um
determinado assunto.
A revisão foi elaborada por Ole Olsen e Aaroe Jette Clausen, da Universidade
de Copenhague, na Dinamarca.
Parto planejado
Em muitos países, Brasil inclusive, a imprensa e os especialistas
selecionados para entrevistas defendem que a opção mais segura para todas as
mulheres é dar à luz no hospital.
O próprio Conselho Federal de Medicina emitiu recentemente um parecer
recomendando preferencialmente o parto em hospitais, apesar de admitir, na
mesma nota, todos os elementos que dão suporte a uma preferência pelo parto
humanizado.
Entretanto, estudos observacionais de qualidade cada vez melhor, e em
diferentes contextos, sugerem que o parto domiciliar planejado pode ser tão
seguro quanto um parto hospitalar planejado, além de apresentar menos
intervenções e menos complicações.
"Como o parto domiciliar está se tornando uma opção atraente e segura para a
maioria das mulheres grávidas, ele tem que ser uma parte integrada do sistema de
saúde," disse Olsen. "Em várias regiões dinamarquesas o serviço de parto
domiciliar tem sido muito bem organizado há vários anos."
Mas os pesquisadores reconhecem que este não é o caso em muitas partes do
mundo, onde as condições sanitárias e econômicas impediriam a recomendação do
parto em casa.
Intervenções desnecessárias durante o parto
A revisão Cochrane conclui que não há nenhuma evidência forte de estudos
experimentais (ensaios clínicos randomizados) para favorecer seja o parto
hospitalar planejado, seja o parto domiciliar planejado para mulheres com
gravidez de baixo risco.
Isso é verdadeiro quando o parto domiciliar planejado é assistido por uma
parteira experiente, com um suporte médico adequado no caso de ser necessária
uma transferência para o hospital.
Rotinas e acesso fácil a intervenções médicas podem aumentar o risco de
intervenções desnecessárias no nascimento, o que explica por que as mulheres que
dão à luz em casa têm uma maior probabilidade de um trabalho de parto
espontâneo.
Há de 20 a 60 por cento menos intervenções no parto domiciliar - por exemplo
menos cesarianas e menos anestesias epidurais - e de 10 a 30 por cento menos
complicações - por exemplo, hemorragia pós-parto e lacerações perineais
graves.
Paciência no parto
Os pesquisadores detectaram também um aumento no número de mulheres que
planejam um parto domiciliar.
"A paciência é importante se as mulheres querem evitar interferências e dar à
luz de forma espontânea," disse Jette Aaroe Clausen. "Em casa, a tentação de
fazer intervenções desnecessárias é reduzida. A mulher evita, por exemplo, a
monitoração eletrônica de rotina que pode facilmente levar a novas intervenções
no nascimento."
Jette Clausen acrescenta que as intervenções no parto são comuns em muitos
países, mas também que há uma crescente preocupação internacional porque as
intervenções podem levar a efeitos iatrogênicos.
Efeitos iatrogênicos, ou iatrogenia, são as consequências involuntárias de
uma intervenção médica.
O monitoramento eletrônico de rotina pode, por exemplo, levar a mais mulheres
com ruptura artificial de membranas, o que por sua vez pode levar a mais
intervenções.
Direitos humanos
Enquanto as evidências científicas de estudos observacionais vêm crescendo, o
Tribunal Europeu de Direitos Humanos em Estrasburgo enunciou recentemente uma
sentença que reforça o apoio ao parto domiciliar.
Na sentença, o tribunal afirmou que "o direito ao respeito pela vida privada
inclui o direito de escolher as circunstâncias do nascimento".
Assim, as conclusões da avaliação são baseadas nos direitos humanos e na ética, bem como nos resultados dos melhores
estudos científicos disponíveis.
Fonte: Diário da Saúde
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